Memória
Mário Cesariny: a pena capital que escreveu o cadáver esquisito
Fechou os olhos ao mundo mas o mundo não mais fechará os olhos à sua obra. Mário Cesariny de Vasconcelos sucumbiu ao cancro na madrugada de 26 de Novembro de 2006, deixando um amplo manancial de textos, desenhos, pinturas e, acima de tudo, atitudes, que o consagram como um dos mais válidos artistas do panorama contemporâneo português.
Já muito se disse sobre a sua obra, sobre a sua vida, sobre a postura que norteou a sua presença nos meios intelectuais e criativos da sua geração. Não será demais dizer que Cesariny, Mário Cesariny de Vasconcelos foi um dos grandes poetas portugueses.
Fechou os olhos ao mundo mas o mundo não mais fechará os olhos à sua obra. Mário Cesariny de Vasconcelos sucumbiu ao cancro na madrugada de 26 de Novembro de 2006, deixando um amplo manancial de textos, desenhos, pinturas e, acima de tudo, atitudes, que o consagram como um dos mais válidos artistas do panorama contemporâneo português.
Já muito se disse sobre a sua obra, sobre a sua vida, sobre a postura que norteou a sua presença nos meios intelectuais e criativos da sua geração. Não será demais dizer que Cesariny, Mário Cesariny de Vasconcelos foi um dos grandes poetas portugueses.
Nasceu em Agosto de 1923, filho de pai beirão e mãe espanhola. Cesariny era um homem livre, como disse Manuel Alegre, na hora da sua partida, cá deste mundo, da convivência dos numerários. Alfacinha, nado na Damaia (por mero “acidente”) e criado na Rua da Palma, viaja para Paris em 1947, onde trava conhecimento com André Breton, figura máxima do surrealismo. Nada será como antes. A sua verve transpira nas cumplicidades. Em “Being Beauteous”, poema de 1957 inicialmente incluído em “19 Projectos de Prémio Aldonso Ortigão / Poemas de Londres”, uma epígrafe atesta: “Ao Luiz Pacheco, poeta da cama”. Do mesmo Pacheco, “Comunidade”, de 1964 (numa 6ª edição de 1980), ostenta a resposta, idêntica epígrafe: Ao Mário Cesariny de Vasconcelos, Poeta do Corpo. “Being Beauteous”, incluído posteriormente no livro “Pena capital” perderá a epígrafe.
Eles lá sabem porquê.
Ainda em 1947 integra o Grupo Surrealista de Lisboa, do qual fazem parte Alexandre O"Neill, António Domingues, António Pedro, Fernando de Azevedo, João Moniz Pereira, José-Augusto França e Marcelino Vespeira. Um ano depois abandona o Grupo Surrealista de Lisboa e funda Os Surrealistas, grupo formado por António Maria Lisboa, Carlos Eurico da Costa, Cruzeiro Seixas, Fernando Alves dos Santos, Fernando José Francisco, Henrique Risques Pereira e Pedro Oom.
Ainda em 1947 integra o Grupo Surrealista de Lisboa, do qual fazem parte Alexandre O"Neill, António Domingues, António Pedro, Fernando de Azevedo, João Moniz Pereira, José-Augusto França e Marcelino Vespeira. Um ano depois abandona o Grupo Surrealista de Lisboa e funda Os Surrealistas, grupo formado por António Maria Lisboa, Carlos Eurico da Costa, Cruzeiro Seixas, Fernando Alves dos Santos, Fernando José Francisco, Henrique Risques Pereira e Pedro Oom.
“Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura
Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio
Afinal o que importa não é ser novo e galante
– ele há tanta maneira de compor uma estante
Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos
frente ao precipício
e cair verticalmente no vício.”
Foi grande na pintura, na escrita, na cidadania (ele que, homossexual convicto e assumido, muito sofreu às custas da polícia política, ainda por cima antifascista, isso já era demais, clamavam alguns…), na força com que viveu e fez viver.
Muito, muito mais se poderia dizer sobre este grande artista, grande homem e significativo criador de xamânicas visões literárias. Não será inocente que todos os prémios que recebeu tenham sido atribuídos nos últimos anos da sua vida (2002 - Grande Prémio EDP, Fundação EDP; 2005 – Prémio “Vida Literária” – Associação Portuguesa de Escritores; 2005 -Grã-Cruz da Ordem da Liberdade, entregue pelo presidente da República Dr. Jorge Sampaio). É tão bom ter um rebelde para exibir. “Quem caminha aprende que toda a caminhada expõe a cair, mas, para nós, a queda vale mais do que a segurança de estar parado” (in “A Afixação Proibida”).
Ao contrário do nome que designa os textos feitos de combinações aleatórias ou ao gosto da sorte, o cadáver de Mário Cesariny de Vasconcelos nunca seria esquisito. Muito menos atrofiado. Porquê? Porque como se lê em “Autoridade e Liberdade são uma e a Mesma Coisa”, folha volante distribuída em 1958, “do cadáver dum homem que morre livre pode sair acentuado mau cheiro – nunca sairá um escravo”.
João Morales
A Antena Miróbriga quer agradecer a amabilidade de João Morales
João Morales é Director da Revista "Os Meus Livros"
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