Monday, November 20, 2006

A formação da Lagoa de Santo André


"Os ecossistemas naturais", conferência na Lagoa de Santo André

"Antes de ser lagoa, foi estuário". Aquela que hoje conhecemos por Lagoa de Santo André é o resultado do encontro de duas ribeiras - Cascalheira e Areal -, que na zona baixa formaram uma lagoa com ligação ao mar, daí a "mistura de água doce e salgada", revelou o biólogo António Antunes Dias durante a conferência "A evolução natural na formação da Lagoa de Santo André", que decorreu no Monte do Paio, costa de Santo André.

O investigador na área das pescas e aquicultura e ex- presidente da Reserva Natural do Estuário do Sado participou com entusiasmo em mais uma iniciativa promovida pelo Instituto das Comunidades Educativas (ICE), no dia 11 de Novembro.

No entanto, revelou alguma preocupação face ao futuro destas zonas húmidas que "tendem a desaparecer". A razão prende-se com "a força das duas ribeiras que estão na origem da sua formação". Segundo o especialista "quando enfraquecem e deixam de ter força para impedir a ligação do mar, a lagoa fecha-se e tende a desaparecer". "As ribeiras trazem sedimentos e argila. Muitos têm peso e vão ao fundo, outros ficam a boiar, e são esses que adquirem cargas condutoras do liquído onde se encontram, que atraem as partículas e formam uma matéria mais pesada para ir ao fundo que acaba por formar uma lagoa", explicou.

No entanto, a abertura da lagoa ao mar, em Março, atrasa a sua evolução natural, uma vez que "a força do mar provoca o desassoreamento das terras, limpando a lagoa em termos de sedimento acumulado" adiando o seu desaparecimento.

Segundo o biólogo, "tratam-se de zonas muito importantes em termos de pesca". "Há muitas espécies de peixes que se reproduzem no mar, mas uma percentagem razoável entra para as lagoas e aí permanece até atingir a vida adulta".

A escolha das lagoas como "berçários" justifica-se por serem locais "ricos em termos alimentares", apresentarem "um clima mais ameno" e existirem "muito menos predadores", sublinha.

Depois, existem as outras espécies que precisam dos estuários, como as enguias. A nível europeu, Portugal, é quem mais recebe esta espécie. "Quando entra nos estuários já tem cerca de dois anos e meio, entre Outubro e Março. As lagoas e os estuários são fundamentais porque uma enguia não é capaz de passar da água salgada para água doce e é nestes estuários que fazem a adaptação gradual, completam o período de crescimento adulto e depois regressam ao mar para a postura", disse.

Quando atingem os 22 cm, as enguias estão na altura da primeira reprodução e "é importante que os pescadores apanhem estas espécies nesta altura de uma forma sustentável", defende o investigador que lembra: "A lagoa é um viveiro de peixes de grandes dimensões. Neste caso, Lagoa de Santo André, admite-se a pesca dos peixes, mas no que respeita as enguias convém obedecer ao tamanho das espécies e para atingirem o tamanho ideal as enguias necessitam de mais de um ano depois de entrarem na lagoa", estima.

A pesca da enguia fora do período normal "impede a reprodução, a arte que é utilizada deita por terra aquilo que a natureza constrói e a sua prática desequilibra o desenvolvimento sustentado", adverte António Antunes Dias.

Para o biólogo a diversidade biológica da lagoa "é muito importante", assim como a variedade das espécies, dos ecossistemas e habitats.

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